domingo, 9 de junho de 2013

TREVAS ORÇAMENTÁRIAS

Os  governos  do  PT  ressuscitaram  danosas  práticas  orçamentárias  que  haviam  sido  sepultadas
na  segunda-metade  dos  anos  de  1980 .
Por  elas ,  o  Ministro  da  Fazenda  tinha  o  poder  de  aprovar  despesas  públicas  sem  prévia  
autorização  legislativa ,  à  moda  medieval .  Isso  acontecia  através  de  um  orçamento  monetário
pelo  qual  eram  transferidos  recursos  do  Tesouro  ao  Banco  do  Banco  do  Brasil  e  ao  Banco 
Central . 
Tais  recursos  provinham  da  venda  de  títulos  públicos  federais  a  taxas  de  juros  do  mercado .
Nada  se  cobrava  nas  duas  instituições ,  que  por  isso  podiam  conceder  empréstimos  a  taxas
inferiores  às  do  mercado  e  ainda  assim  auferir  lucros.  Qual  a  mágica  ?
Na  verdade ,  esse  esquisito  arranjo  institucional  gerava  uma  despesa  pública  oculta ,  a  qual ,
a  grosso  modo ,  decorria  da  diferença  entre  as  duas  taxas  de  juros ,  dos  títulos  federais  e  a
dos  empréstimos . 
O  gasto  implícito  nessas  operações  era  coberto  por  novas  emissões  de  títulos  do  Tesouro , 
numa  espécie  de  rosca  sem  fim . Tratava-se ,  pois ,  de  um  orçamento  paralelo ,  que  permitia
a  expansão  indefinida  da  despesa  e  da  divida ,  sem  o  conhecimento  do  Congresso  Nacional
e  da  Sociedade . 
Acontece  que  esse  processo  subterrâneo  manifestava  seus  efeitos  na  elevação  do  endividamento
federal ,  na  má  alocação   dos  recursos  e  nas  pressões  inflacionárias .
Sob distintas  formas ,  esse  arranjo  funcionou  desde  os  tempos  do  Brasil  colônia .
Suas  origens  remontam  ao  absolutismo  português ,  que  sobreviveu  por  muito  tempo  à  onda  de
reformas  iniciadas  na  Europa  no  século  XVII ,  as  quais  puseram  fim  ao  arbítrio  em  questões
orçamentárias . 
O  poder  de  dispor  sobre  a  despesa  pública  foi  transferido  ao  parlamento ,  um  passo  fundamental
na  longa  caminhada  rumo  à  moderna  democracia . 
O  rei  ou  rainha  não  podiam  mais   gastar  ao  seu  talante  nem  declarar  guerra -  que  exige  o  aumento  de  gastos ,  sem  prévia  autorização  legislativa . 
Mais  tarde  o  orçamento  viria  a  ser  o  mecanismo  básico  de  planejamento  das  ações  do  estado  e
da  promoção  do  desenvolvimento  econômico  e  social.
Por  força  talvez  das  tradições  herdadas  da  metrópole ,  o  valor  econômico ,  social  e  político  do
orçamento  não  se  enraizou  na  sociedade  brasileira .
É  amplamente  aceita  a  ideia  equivocada  de  que  o  orçamento  é  autorizativo.
Salvo  as  despesas  obrigatórias ,  admite-se  que  o  Executivo  pode  não  cumprir  parte  da  Lei  Orça-
mentária .
Neste  momento  de  crise ,  a  Europa  é  exemplo  a  ser  observado  :  os  cortes  de  despesas  são 
associados  a  programas  de  austeridade  fiscal ,  foram  previamente  aprovados  pelos  respectivos 
parlamentos ,  inclusive  o  de  Portugal .
A  partir  de  1986 ,  o  Brasil  passou  a  adotar  saudáveis  princípios  orçamentários . 
Extingui-se  o  orçamento  monetário  de  recursos  do  Tesouro  ao  Banco  do  Brasil   e  ao  Banco
Central . 
Criou-se  a  Secretaria  do  Tesouro  Nacional  que  assumiu  a  gestão  da  dívida  e  do  orçamento  
federais . 
A  Lei  de  Responsabilidade  Fiscal  criada  em  2000  fixou  regras  para  o  controle  da  despesa  e  do
endividamento  da  União .
Subsídios  e  subvenções , explícitos  ou  implícitos ,  deveriam  constar  do  orçamento  aprovado  pelo
Congresso  Nacional ,
Esse  ciclo  modernizante  ainda  precisa  ser  complementado  com  a  reforma  do  antiquado  processo
de  elaboração  e  controle  do  orçamento  (  Lei  número  4.320/1964  estando  ainda  em  discussão  no
Senado  Federal . 
Finalmente ,  os  governos   do  PT  deram  marcha  a  ré  no  ciclo  modernizante  das  finanças  públicas
brasileiras  iniciado  em  1986 . 
Passaram  a  suprir  o  BNDES  de  recursos  via  medidas  provisórias  que  ampliam  a  dívida  pública ,
como  no  passado .  Têm  contado  para  tanto ,  com   a  omissão  do  Congresso ,  que  renuncia  às  
prerrogativas  do  processo  orçamentário  e  chancela  essa  conduta . 
Tal  qual  nas  trevas  do  passado ,  o  processo  ressuscitado  gera  duas  disfunções  :
1 - Burocratas  realizam  gastos  sem  autorização  legislativa .
2 - Os  subsídios  implícitos  nessas  transações  não  constam  no  orçamento .
Sem  registro  dos  respectivos  gastos  e  sem  transparência ,  dribla-se  a  fiscalização  do  Tribunal  de
Contas  da  União  ( TCU ) .
Essa  involução  institucional  precisa  ser  contida .
Com  a  palavra  o  Congresso  Nacional  e  o  TCU .

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Fraternal  abraço .
Jerônimo  Sales .

Fontes :  Comentário  de  Maílson  da  Nóbrega
              Prof. de  Economia  da  FGV .
              Comentarista  Econômico  da  VEJA .

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